ESTE ESPAÇO É DE VALORIZAÇÃO CULTURAL DOS MODOS DE VIDA DOS AGRICULTORES FAMILIARES, RIBEIRINHOS, POVOS TRADICIONAIS E INDÍGENAS DO BRASIL.

Os "Cunhas do Brasil" são uma família imensa que vive entre uma cadeia de montanhas na Zona da Mata de Minas Gerais. Dá-se conta que os primeiros Cunhas chegaram por volta da década de 30 e já tornariam famosos nas redondezas, a partir de uma missão ousada e empreendedora de conquista: A temida subida de uma enorme montanha que ficava ao pé da vila - ficou conhecido como Morro do São Luiz. Os Cunhas queriam é ficar na roça!
Com extrema coragem e perspicácia, montados em cavalos, charretes e em carros de bois, a caravana chegou a uma baixada e até hoje, passados mais de 80 anos do célebre ato, ainda se encontram no local e são símbolos históricos de que o meio rural/florestal é o melhor lugar para se viver. Diante da dificuldade de acesso à vila, ficaram praticamente isolados por mais de 40 anos fazendo com que desenvolvessem um linguajar próprio e modos específicos de sobrevivência. Atualmente, são famosos por produzirem o melhor café da região e uma cachaça mardita de boa...
...e não duvide: vivem felizes e satisfeitos assim como sabiá cantando!

18 de out. de 2019

Pescador do Rio Seco

Imagem: Leo Cunha e André Neves

Pescador
O amor pelo rio acabou
Não foi o boto que levou
Nem o peito da canoa que rachou
Foram os olhos do homem pescador!
Olhos frios do peixe que no rio você descartou
Pescador
A pesca do rio secou
Foi por causa da indústria que chegou
ou a barragem, que água represou?
O que fica além dos sonhos tristes do homem que a cidade cercou?

A rede, a rédea, a isca
A vida, a draga, o barco
O casco, o banzeiro e a filha

O pescador
Enchendo o rio com suas lágrimas
Tarrafeando o rio seco
com a areia entre os dentes
(L.C)

"...Peixe Industrializado? Dinheiro? Como? Cadê o Peixe? Cadê o rio?" (L.C)

27 de set. de 2019

Vide Vida Marvada

Vídeo: Apresentação histórica de Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho em Tatuí - SP. Ao Vivo-1992.

De Rolando Boldrin
Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro
São mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi
Santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho
A ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando
Essa vida marvada
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remedio pro meu desengano
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda magoa é um misterio fora desses planos
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pro uma visitinha
Que num verso ou num reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num caterete
Há de encontrar-me num caterete
Tem um ditado dito como certo
Que cavalo esperto
"Num" espanta boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpade meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando da pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando e assim procurando
A minha flor de liz
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remedio pro meu desengano
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda magoa é um misterio fora desses planos
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pro uma visitinha
Que num verso ou num reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num caterete
Há de encontrar-me num caterete
Fonte: Musixmatch

22 de jul. de 2019

Conversa dos Compadres

Pintura: José Rosário Souza - Dionísio/MG. 1969

" Na vida, as melhores coisas são grátis. E não tem preço
( J. Williams)

Dialogando, dois compadres iam a beira da tarde, buscar uns gados no alto da serra, perto da capoeira, no fundo da roça de um deles.

- Compadre Herculano, o amigo sabe o que não tem preço e tem muito valor?

- Espera aí compadre Juarez, que vou pensar. Gostei da pergunta.

E os dois compadres dão uma puxada boa em um cigarro de palha, olham no horizonte distante, cospem o fumo juntos, respiram pausadamente, deixando o silêncio espalhar e que não incomoda nas grandes e verdadeiras amizades.

- É fim de tarde, bom momento pra pensar nas coisas Compadre Herculano...

- Sabe de uma coisa, pergunta boa, mas resposta fácil pra homens como nóis compadre Juarez. Nois tem um coração, uma crença, um sonho e já sofremo um pouco tamém não é?

- É mermo Compadre Herculano, se a gente num saber dessas coisas, podemos tomar o rumo dos infernos num sabe...Vamo vortá compadre, tenho que levar o gado pro curral e a patroa tá querendo hoje fazer uma visita pra Dona Lucélia, que volto da cidade por esses dias, depois do tratamento.

- Sabe compadre Juarez, o que não tem preço tem um valor danado! 
É como a saúde de Dona Lucélia, o amor que tenho por minha amada Ritinha e nossos fiotes, a liberdade de poder andar por este campo de meu Deus montado em meu cavalo, a amizade verdadeira do compadre, dormir tranquilo na noite da tempestade ou da ventura...

- Tá certo, verdade compadre!

E os dois saíram em seus cavalos, enquanto no horizonte, o sol riscava seus últimos raios sobre a terra, espreitando o descanso das estrelas.
(Leo Canaã)

7 de jul. de 2019

O Jardim Encantado



-Vem minha filha!

E a menina sapequinha, ficava lá, dentro do jardim da avó, perdida e envolta entre as plantas diversas, as flores, as pétalas, os espinhos e os pomares (principalmente de jabuticaba que adora), olhando e caminhando, às vezes parando, ficando mais um pouco aqui, outro ali, como se estivesse em uma loja de brinquedos e não tivesse que tirar nada do lugar. Também gostava de perceber a orquestra de sapos, grilos e principalmente dos passarinhos (é apaixonada por beija flor).

- Vem minha Filha!

Ela percebe que o pai grita da casa, mas pensou que poderia esperar por mais 1, 2 ou sei lá, alguns minutos, porque ela queria ir até a fonte do Sinval. Sinval foi o nome que ela deu para um macaco que um dia apareceu na mina d’água e ela se lembrou do bigode do Sr. Sinval, o porteiro da escola, ao ver que o macaco também o tinha. A menina gostava de dar nomes aos bichos: Tinha a Cecília – a garça branca, o Teo – Lagarto verde, o Júlio – papagaio falante e a Penélope – uma gatinha do mato.

- Vem minha filha, temos que ir. Sua mãe está chegando!

Quando a menina chegava na fonte, ficava buscando o sol no jardim da avó, vendo os raios talhar as aberturas entre os galhos e as folhas espessas, fazendo como um jogo de Labirinto ou de adivinhar o que é, que pintava o próprio chão e o telhado das plantas com figuras e desenhos inusitados: Rei Artur, o João sem o Pé de Feijão, a Margarida Feia, a Rosa Cor de Rosa, a Baleia de Baixo, a fada do Pirulito, o Curupira, o cavalo Getúlio, um palhaço careca, o zinho – filho do vizinho, o duende Carlos, a formiga gorda, o caboclo brabo, o rio bento, o dragão de girassol, a cachorra Nina e a Tartaruga Surda.

- Minha filha, não me faça ir aí!

E menina, agora triste, sabe que terá que ir, mas gostaria de ser uma azaleia ou uma vitória régia, quem sabe um quatipuru, só para poder ficar neste jardim para sempre. Ah, esqueceu-se de dizer que também poderia ser um boto ou uma mãe do mato, uma borboleta azul ou uma sombra para acalentar. Sonhava o dia em que poderia ir morar em um jardim grande como o mundo e pensou que se o mundo fosse um jardim, o mundo só poderia ser encantado, "como este da vovó".
Quando já sonhava no que mais poderia ser e no que as figuras do sol poderiam se transformar, algo puxou a menina fortemente de outro lado, arrancando-a de uma vez da terra e deixando-a sobre o chão, fazendo com que, por instantes, seu coração palpitasse mais que tudo.

- Vem minha filha! Só assim mesmo para você sair deste jardim de sua avó.


( Leo Canaã - "O Jardim Encantado*". 07 de Julho de 2019)

*Dedicado as minhas sobrinhas Camila, Lara, Júlia, Natália e Vitória e aos meus sobrinhos Otávio, Hugo e Davi. Também dedico ao meu "afilhado" Luan e a minha afilhada Bebeca, além de Malu, Clarissa, Caíque e Gabriel, Júlia e Gabi, Estér, Lívia, Murilo, Lulu (Luíza) e Caê, Samuel, Luna e Maitê, Kaman, Pedro, Artur e Luiz Antônio e todas as crianças que fazem da vida algo esplêndido. Obrigado do Tio!

20 de jun. de 2019

O Paraíso Terrestre

Arte Kaiapó: Paulinho Santos

Há muito e muito tempo, a tribo da grande nação indígena Kaiapós habitava um mundo sem céu. Por isso, não existia também sol, nem lua, nem estrelas, cometas, arco-íris, pássaros. Aqueles habitantes se alimentavam apenas de mandioca e pequenos animais, mas nunca tinham visto, por exemplo, um peixe, pois não havia rios por ali. Tampouco, comiam frutas, pois não havia florestas, sequer arbustos e pequenas moitas. Era um mundo vazio.
Um dia, um jovem índio estava caçando quando avistou sua presa: um tatuzinho amedrontado. Percebendo a presença do caçador, o animal fugiu, e quanto mais corria, mais o jovem corria atrás. Sem entender, ele viu que o pequeno tatu crescia a cada passo, se tornando um grande animal que, embora grande, continuava amedrontado.
Cansado de correr e já percebendo a proximidade do caçador, o grande tatu cavou rapidamente a terra seca e escura abaixo deles, abrindo um grande buraco, no qual desapareceu.
À beira da cova, o índio ficou observando para se certificar que o animal fugiu mesmo. Não aguentando sua curiosidade, decidiu descer pelo buraco e, com surpresa, percebeu que ao final do caminho, havia um ponto luminoso. Sem sinal do tatu, resolveu seguir aquele ponto de luz.
Por muitos anos, aquele jovem índio se lembraria do que viu quando chegou ao final do túnel. Viu aos poucos o ponto de luz se transformar em uma grande abertura e um novo mundo se revelou: um mundo com um céu tão azul que os olhos acostumados com a escuridão ardiam. Um Sol tão luminoso que o índio temeu se queimar por um instante.
E, um lindo arco-íris, cujas cores estavam nas penas de algumas aves e nas asas de borboletas que enfeitavam o céu. Uma grande mata crescia nas margens de um grande rio, de onde pulavam peixes de vários tamanhos e cores. Perto dele, alguns animais caminhavam sem medo, como tartarugas, macacos, capivaras e preás.
O jovem índio ficou admirando aquele novo mundo e notou que o Sol se movia, fugia dele, até desaparecer. A tristeza tomou conta do jovem, que pensou que tudo aquilo havia acabado com o Sol. Mas, seu deslumbramento voltou assim que viu surgir no céu uma grande pedra branca, bem redonda e brilhante. Era a Lua que surgia com mais um milhão de estrelas que piscavam, e brilhavam, e iluminavam o céu e a terra. Algumas chegavam bem perto dele, como se fossem pequenos insetos luminosos.
Correndo mais rápido do que nunca, o índio voltou à aldeia para contar sobre aquele novo mundo. O pajé, homem mais respeitado na tribo, autorizou que todos seguissem aquele caminho aberto pelo tatu. Os índios foram, um a um, descendo por uma longa corda até pisar no chão daquele que seria seu novo lar, o Mundo Novo.
(Daniel Munduruku)

10 de jun. de 2019

Como um Rio

Foto: Sebastião Salgado - Rio Gregório/Aldeia Nova Esperança - Acre

" Ser capaz, como um rio que leva sozinho a canoa que se cansa, de servir de caminho para esperança. E de lavar do límpido a mágoa da mancha, como o rio que leva e lava.

Crescer para entregar na distância calada um poder de canção, como o rio decifra o segredo do chão. Se tempo é de descer, reter o dom da força sem deixar de seguir e até mesmo sumir, pra, subterrâneo, prender a voltar e cumprir, no seu curso, o ofício de amar.


Como um rio, aceitar essas súbitas ondas de águas impuras que afloram a escondida verdade nas funduras. 


Como um rio, que nasce de outros, saber seguir, juntos com outros sendo e noutros se prolongando e construir o encontro com as águas grandes do oceano sem fim.


Mudar em movimento, mas sem deixar de ser o mesmo ser que muda como um rio"

(Thiago de Mello)

15 de abr. de 2019

Almir Sater & Renato Teixeira - AR [2015]

Capa do CD "AR"

Ô trem bão sô!!! Ô Doido!!!!
Com essa mudernidade toda, Cumadre Vera e Cumpadre João (não faço uma visitinha tem tempo!) futicaram e me mandaram um CD por esse troço de internet. Num entendo nada disso! Mas, minha fia tem destas coisas...Música boa é com nóis mermo, nóis gosta uai. E num é que me mandaram esse CD bão demais, Almir Sater & Renato Teixeira, os dois junto, ô cabras da peste viu. Cumadre e Cumpadre sabe que gosto de avoar um pouco e como avoar assim é bão moço! Baixa esse troço logo, larga de dormir no ponto homi! Vamo ouvi viola no remanso!

PARA BAIXAR O CD
1) Clique no nome abaixo
2) Aós clicar no nome acima, abrirá a página do MEGA, então tem um link no alto da página escrito "baixar como zip", onde deve clicar para fazer cópia e/ou baixar o CD. Após baixar o CD, sugiro copiar as músicas da pasta zipada  para uma pasta no seu computador. Fica mais fácil reproduzir.

20 de fev. de 2019

"Pescador"

Pintura: Djanira da Motta e Silva

Pescador, onde vais pescar esta noitada: 
Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? 
Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas 
Ouço a água ponteando no peito da tua canoa... 

Vai em silêncio, pescador, para não chamar as almas 
Se ouvires o grito da procelária, volta, pescador! 
Se ouvires o sino do farol das Feiticeiras, volta, pescador! 
Se ouvires o choro da suicida da usina, volta, pescador! 

Traz uma tainha gorda para Maria Mulata 
Vai com Deus! daqui a instante a sardinha sobe 
Mas toma cuidado com o cação e com o boto nadador 
E com o polvo que te enrola feito a palavra, pescador! 

Por que vais sozinho, pescador, que fizeste do teu remorso 
Não foste tu que navalhaste Juca Diabo na cal da caieira? 
Me contaram, pescador, que ele tinha sangue tão grosso 
Que foi preciso derramar cachaça na tua mão vermelha, pescador. 

Pescador, tu és homem, hem, pescador? que é de Palmira? 
Ficou dormindo? eu gosto de tua mulher Palmira, pescador! 
Ela tem ruga mas é bonita, ela carrega lata d'água 
E ninguém sabe por que ela não quer ser portuguesa, pescador... 

Ouve, eu não peço nada do mundo, eu só queria a estrela-d'alva 
Porque ela sorri mesmo antes de nascer, na madrugada 
Oh, vai no horizonte, pescador, com tua vela tu vais depressa 
E quando ela vier à tona, pesca ela para mim depressa, pescador? 

Ah, que tua canoa é leve, pescador; na água 
Ela até me lembra meu corpo no corpo de Cora Marina 
Tão grande era Cora Marina que eu até dormi nela 
E ela também dormindo nem me sentia o peso, pescador... 

Ah, que tu és poderoso, pescador! caranguejo não te morde 
Marisco não te corta o pé, ouriço-do-mar não te pica 
Ficas minuto e meio mergulhado em grota de mar adentro 
E quando sobes tens peixe na mão esganado, pescador! 

É verdade que viste alma na ponta da Amendoeira 
E que ela atravessou a praça e entrou nas obras da igreja velha? 
Ah, que tua vida tem caso, pescador, tem caso 
E tu nem dás caso da tua vida, pescador... 

Tu vês no escuro, pescador, tu sabes o nome dos ventos? 
Por que ficas tanto tempo olhando no céu sem lua? 
Quando eu olho no céu fico tonto de tanta estrela 
E vejo uma mulher nua que vem caindo na minha vertigem, pescador. 

Tu já viste mulher nua, pescador: um dia eu vi Negra nua 
Negra dormindo na rede, dourada como a soalheira 
Tinha duas roxuras nos peitos e um vasto negrume no sexo 
E a boca molhada e uma perna calçada de meia, pescador... 

Não achas que a mulher parece com a água, pescador? 
Que os peitos dela parecem ondas sem espuma? 
Que o ventre parece a areia mole do fundo? 
Que o sexo parece a concha marinha entreaberta pescador? 

Esquece a minha voz, pescador, que eu nunca fui inocente! 
Teu remo fende a água redonda com um tremor de carícia 
Ah, pescador, que as vagas são peitos de mulheres boiando à tona 
Vai devagar, pescador, a água te dá carinhos indizíveis, pescador! 

És tu que acendes teu cigarro de palha no isqueiro de corda 
Ou é a luz da bóia boiando na entrada do recife, pescador? 
Meu desejo era apenas ser segundo no leme da tua canoa 
Trazer peixe fresco e manga-rosa da Ilha Verde, pescador! 

Ah, pescador, que milagre maior que a tua pescaria! 
Quando lanças tua rede lanças teu coração com ela pescador! 
Teu anzol é brinco irresistível para o peixinho 
Teu arpão é mastro firme no casco do pescado, pescador! 

Toma castanha de caju torrada, toma aguardente de cana 
Que sonho de matar peixe te rouba assim a fome, pescador? 
Toma farinha torrada para a tua sardinha, toma, pescador 
Senão ficas fraco do peito que nem teu pai Zé Pescada, pescador... 

Se estás triste eu vou buscar Joaquim, o poeta português 
Que te diz o verso da mãe que morreu três vezes por causa do filho na guerra 
Na terceira vez ele sempre chora, pescador, é engraçado 
E arranca os cabelos e senta na areia e espreme a bicheira do pé. 

Não fiques triste, pescador, que mágoa não pega peixe. 
Deixa a mágoa para o Sandoval que é soldado e brigou com a noiva 
Que pegou brasa do fogo só para esquecer a dor da ingrata 
E tatuou o peito com a cobra do nome dela, pescador. 

Tua mulher Palmira é santa, a voz dela parece reza 
O olhar dela é mais grave que a hora depois da tarde 
Um dia, cansada de trabalhar, ela vai se estirar na enxerga 
Vai cruzar as mãos no peito, vai chamar a morte e descansar... 

Deus te leve, Deus te leve perdido por essa vida... 
Ah, pescador, tu pescas a morte, pescador 
Mas toma cuidado que de tanto pescares a morte 
Um dia a morte também te pesca, pescador! 

Tens um branco de luz nos teus cabelos, pescador: 
É a aurora? oh, leva-me na aurora, pescador! 
Quero banhar meu coração na aurora, pescador! 
Meu coração negro de noite sem aurora, pescador! 

Não vás ainda, escuta! eu te dou o bentinho de São Cristóvão 
Eu te dou o escapulário da Ajuda, eu te dou ripa da barca santa 
Quando Vênus sair das sombras não quero ficar sozinho 
Não quero ficar cego, não quero morrer apaixonado, pescador! 

Ouve o canto misterioso das águas no firmamento... 
É a alvorada, pescador, a inefável alvorada 
A noite se desincorpora, pescador, em sombra 
E a sombra em névoa e madrugada, pescador! 

Vai, vai, pescador, filho do vento, irmão da aurora 
És tão belo que nem sei se existes, pescador! 
Teu rosto tem rugas para o mar onde deságua 
O pranto com que matas a sede de amor do mar! 

Apenas te vejo na treva que se desfaz em brisa 
Vais seguindo serenamente pelas águas, pescador 
Levas na mão a bandeira branca da vela enfunada 
E chicoteias com o anzol a face invisível do céu.
(Pescador - Vinícius de Moraes, Rio de Janeiro/1946)

11 de jan. de 2019

Almir Sater - Instrumental [1985]

Capa do CD "Instrumental"

Ô DÓIDO!!!!

Vortei esse firnal de ano na casa de Cumadre Vera e Cumpadre João pra gente a mode prosear, comê carne e beber a boa água que passarinho num bica. A gente se gosta muito num sabe. Num é que, quando cheguei, tava cumpadre João esperano na varanda, com uma cara de homem que viu peixe fora d'água. Pensei: ué, que esse homi tem? Num era que a luz tinha ido embora, mode um gaio de árvore caiu na rede de energia! Ficamo até altas horas da madrugada proseando e jogando conversa fora, até que a luz vortô e num é que cumpadre e cumadre colocaram umas modas de viola daquelas. O violêro bão essa tar de Almir Sater! O homi que toca viu! ô dóido!!!! Só Viola caipira pra curtir a lua branca, as estrelas, pensar no Jesus Menino, no divino, na minha santa mãe que tá no céu, nos meus fios espaiados pela roça do mato dentro, minha muier jeitada e amor da minha vida e na vida sô...
Negoço fino viu! É bão demais!!! 

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