Arte Kaiapó: Paulinho Santos
Há muito e muito tempo, a tribo da
grande nação indígena Kaiapós habitava um mundo sem céu. Por isso, não existia
também sol, nem lua, nem estrelas, cometas, arco-íris, pássaros. Aqueles
habitantes se alimentavam apenas de mandioca e pequenos animais, mas nunca
tinham visto, por exemplo, um peixe, pois não havia rios por ali. Tampouco,
comiam frutas, pois não havia florestas, sequer arbustos e pequenas moitas. Era
um mundo vazio.
Um dia, um jovem índio estava caçando
quando avistou sua presa: um tatuzinho amedrontado. Percebendo a presença do
caçador, o animal fugiu, e quanto mais corria, mais o jovem corria atrás. Sem
entender, ele viu que o pequeno tatu crescia a cada passo, se tornando um
grande animal que, embora grande, continuava amedrontado.
Cansado de correr e já percebendo a
proximidade do caçador, o grande tatu cavou rapidamente a terra seca e escura
abaixo deles, abrindo um grande buraco, no qual desapareceu.
À beira da cova, o índio ficou
observando para se certificar que o animal fugiu mesmo. Não aguentando sua
curiosidade, decidiu descer pelo buraco e, com surpresa, percebeu que ao final
do caminho, havia um ponto luminoso. Sem sinal do tatu, resolveu seguir aquele
ponto de luz.
Por muitos anos, aquele jovem índio
se lembraria do que viu quando chegou ao final do túnel. Viu aos poucos o ponto
de luz se transformar em uma grande abertura e um novo mundo se revelou: um
mundo com um céu tão azul que os olhos acostumados com a escuridão ardiam. Um
Sol tão luminoso que o índio temeu se queimar por um instante.
E, um lindo arco-íris, cujas cores
estavam nas penas de algumas aves e nas asas de borboletas que enfeitavam o
céu. Uma grande mata crescia nas margens de um grande rio, de onde pulavam
peixes de vários tamanhos e cores. Perto dele, alguns animais caminhavam sem
medo, como tartarugas, macacos, capivaras e preás.
O jovem índio ficou admirando aquele
novo mundo e notou que o Sol se movia, fugia dele, até desaparecer. A tristeza
tomou conta do jovem, que pensou que tudo aquilo havia acabado com o Sol. Mas,
seu deslumbramento voltou assim que viu surgir no céu uma grande pedra branca,
bem redonda e brilhante. Era a Lua que surgia com mais um milhão de estrelas
que piscavam, e brilhavam, e iluminavam o céu e a terra. Algumas chegavam bem
perto dele, como se fossem pequenos insetos luminosos.
Correndo mais rápido do que nunca, o
índio voltou à aldeia para contar sobre aquele novo mundo. O pajé, homem mais
respeitado na tribo, autorizou que todos seguissem aquele caminho aberto pelo
tatu. Os índios foram, um a um, descendo por uma longa corda até pisar no chão
daquele que seria seu novo lar, o Mundo Novo.
(Daniel Munduruku)
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