-Vem minha filha!
E a menina sapequinha,
ficava lá, dentro do jardim da avó, perdida e envolta entre as plantas diversas,
as flores, as pétalas, os espinhos e os pomares (principalmente de jabuticaba
que adora), olhando e caminhando, às vezes parando, ficando mais um pouco aqui,
outro ali, como se estivesse em uma loja de brinquedos e não tivesse que tirar
nada do lugar. Também gostava de perceber a orquestra de sapos, grilos e
principalmente dos passarinhos (é apaixonada por beija flor).
- Vem minha Filha!
Ela percebe que o pai
grita da casa, mas pensou que poderia esperar por mais 1, 2 ou sei lá, alguns
minutos, porque ela queria ir até a fonte do Sinval. Sinval foi o nome que ela
deu para um macaco que um dia apareceu na mina d’água e ela se lembrou do
bigode do Sr. Sinval, o porteiro da escola, ao ver que o macaco também o tinha.
A menina gostava de dar nomes aos bichos: Tinha a Cecília – a garça branca, o
Teo – Lagarto verde, o Júlio – papagaio falante e a Penélope – uma gatinha do
mato.
- Vem minha filha, temos
que ir. Sua mãe está chegando!
Quando a menina chegava na fonte, ficava buscando
o sol no jardim da avó, vendo os raios talhar as aberturas entre os galhos e as
folhas espessas, fazendo como um jogo de Labirinto ou de adivinhar o que é, que pintava o
próprio chão e o telhado das plantas com figuras e desenhos inusitados: Rei
Artur, o João sem o Pé de Feijão, a Margarida Feia, a Rosa Cor de Rosa, a
Baleia de Baixo, a fada do Pirulito, o Curupira, o cavalo Getúlio, um palhaço careca, o zinho
– filho do vizinho, o duende Carlos, a formiga gorda, o caboclo brabo, o rio bento, o dragão
de girassol, a cachorra Nina e a Tartaruga Surda.
- Minha filha, não me faça
ir aí!
E menina, agora triste,
sabe que terá que ir, mas gostaria de ser uma azaleia ou uma vitória régia,
quem sabe um quatipuru, só para poder ficar neste jardim para sempre. Ah, esqueceu-se
de dizer que também poderia ser um boto ou uma mãe do mato, uma borboleta azul ou
uma sombra para acalentar. Sonhava o dia em que poderia ir morar em um jardim grande como o mundo e pensou que se o mundo fosse um jardim, o mundo só poderia ser
encantado, "como este da vovó".
Quando já sonhava no que
mais poderia ser e no que as figuras do sol poderiam se transformar, algo puxou
a menina fortemente de outro lado, arrancando-a de uma vez da terra e deixando-a
sobre o chão, fazendo com que, por instantes, seu coração palpitasse mais que
tudo.
- Vem minha filha! Só
assim mesmo para você sair deste jardim de sua avó.
( Leo Canaã - "O Jardim Encantado*". 07 de Julho de 2019)
*Dedicado as minhas sobrinhas Camila, Lara, Júlia, Natália e Vitória e aos meus sobrinhos Otávio, Hugo e Davi. Também dedico ao meu "afilhado" Luan e a minha afilhada Bebeca, além de Malu, Clarissa, Caíque e Gabriel, Júlia e Gabi, Estér, Lívia, Murilo, Lulu (Luíza) e Caê, Samuel, Luna e Maitê, Kaman, Pedro, Artur e Luiz Antônio e todas as crianças que fazem da vida algo esplêndido. Obrigado do Tio!
Que lindo meu irmão! Vc é meu orgulho
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