ESTE ESPAÇO É DE VALORIZAÇÃO CULTURAL DOS MODOS DE VIDA DOS AGRICULTORES FAMILIARES, RIBEIRINHOS, POVOS TRADICIONAIS E INDÍGENAS DO BRASIL.

Os "Cunhas do Brasil" são uma família imensa que vive entre uma cadeia de montanhas na Zona da Mata de Minas Gerais. Dá-se conta que os primeiros Cunhas chegaram por volta da década de 30 e já tornariam famosos nas redondezas, a partir de uma missão ousada e empreendedora de conquista: A temida subida de uma enorme montanha que ficava ao pé da vila - ficou conhecido como Morro do São Luiz. Os Cunhas queriam é ficar na roça!
Com extrema coragem e perspicácia, montados em cavalos, charretes e em carros de bois, a caravana chegou a uma baixada e até hoje, passados mais de 80 anos do célebre ato, ainda se encontram no local e são símbolos históricos de que o meio rural/florestal é o melhor lugar para se viver. Diante da dificuldade de acesso à vila, ficaram praticamente isolados por mais de 40 anos fazendo com que desenvolvessem um linguajar próprio e modos específicos de sobrevivência. Atualmente, são famosos por produzirem o melhor café da região e uma cachaça mardita de boa...
...e não duvide: vivem felizes e satisfeitos assim como sabiá cantando!

22 de jul. de 2019

Conversa dos Compadres

Pintura: José Rosário Souza - Dionísio/MG. 1969

" Na vida, as melhores coisas são grátis. E não tem preço
( J. Williams)

Dialogando, dois compadres iam a beira da tarde, buscar uns gados no alto da serra, perto da capoeira, no fundo da roça de um deles.

- Compadre Herculano, o amigo sabe o que não tem preço e tem muito valor?

- Espera aí compadre Juarez, que vou pensar. Gostei da pergunta.

E os dois compadres dão uma puxada boa em um cigarro de palha, olham no horizonte distante, cospem o fumo juntos, respiram pausadamente, deixando o silêncio espalhar e que não incomoda nas grandes e verdadeiras amizades.

- É fim de tarde, bom momento pra pensar nas coisas Compadre Herculano...

- Sabe de uma coisa, pergunta boa, mas resposta fácil pra homens como nóis compadre Juarez. Nois tem um coração, uma crença, um sonho e já sofremo um pouco tamém não é?

- É mermo Compadre Herculano, se a gente num saber dessas coisas, podemos tomar o rumo dos infernos num sabe...Vamo vortá compadre, tenho que levar o gado pro curral e a patroa tá querendo hoje fazer uma visita pra Dona Lucélia, que volto da cidade por esses dias, depois do tratamento.

- Sabe compadre Juarez, o que não tem preço tem um valor danado! 
É como a saúde de Dona Lucélia, o amor que tenho por minha amada Ritinha e nossos fiotes, a liberdade de poder andar por este campo de meu Deus montado em meu cavalo, a amizade verdadeira do compadre, dormir tranquilo na noite da tempestade ou da ventura...

- Tá certo, verdade compadre!

E os dois saíram em seus cavalos, enquanto no horizonte, o sol riscava seus últimos raios sobre a terra, espreitando o descanso das estrelas.
(Leo Canaã)

7 de jul. de 2019

O Jardim Encantado



-Vem minha filha!

E a menina sapequinha, ficava lá, dentro do jardim da avó, perdida e envolta entre as plantas diversas, as flores, as pétalas, os espinhos e os pomares (principalmente de jabuticaba que adora), olhando e caminhando, às vezes parando, ficando mais um pouco aqui, outro ali, como se estivesse em uma loja de brinquedos e não tivesse que tirar nada do lugar. Também gostava de perceber a orquestra de sapos, grilos e principalmente dos passarinhos (é apaixonada por beija flor).

- Vem minha Filha!

Ela percebe que o pai grita da casa, mas pensou que poderia esperar por mais 1, 2 ou sei lá, alguns minutos, porque ela queria ir até a fonte do Sinval. Sinval foi o nome que ela deu para um macaco que um dia apareceu na mina d’água e ela se lembrou do bigode do Sr. Sinval, o porteiro da escola, ao ver que o macaco também o tinha. A menina gostava de dar nomes aos bichos: Tinha a Cecília – a garça branca, o Teo – Lagarto verde, o Júlio – papagaio falante e a Penélope – uma gatinha do mato.

- Vem minha filha, temos que ir. Sua mãe está chegando!

Quando a menina chegava na fonte, ficava buscando o sol no jardim da avó, vendo os raios talhar as aberturas entre os galhos e as folhas espessas, fazendo como um jogo de Labirinto ou de adivinhar o que é, que pintava o próprio chão e o telhado das plantas com figuras e desenhos inusitados: Rei Artur, o João sem o Pé de Feijão, a Margarida Feia, a Rosa Cor de Rosa, a Baleia de Baixo, a fada do Pirulito, o Curupira, o cavalo Getúlio, um palhaço careca, o zinho – filho do vizinho, o duende Carlos, a formiga gorda, o caboclo brabo, o rio bento, o dragão de girassol, a cachorra Nina e a Tartaruga Surda.

- Minha filha, não me faça ir aí!

E menina, agora triste, sabe que terá que ir, mas gostaria de ser uma azaleia ou uma vitória régia, quem sabe um quatipuru, só para poder ficar neste jardim para sempre. Ah, esqueceu-se de dizer que também poderia ser um boto ou uma mãe do mato, uma borboleta azul ou uma sombra para acalentar. Sonhava o dia em que poderia ir morar em um jardim grande como o mundo e pensou que se o mundo fosse um jardim, o mundo só poderia ser encantado, "como este da vovó".
Quando já sonhava no que mais poderia ser e no que as figuras do sol poderiam se transformar, algo puxou a menina fortemente de outro lado, arrancando-a de uma vez da terra e deixando-a sobre o chão, fazendo com que, por instantes, seu coração palpitasse mais que tudo.

- Vem minha filha! Só assim mesmo para você sair deste jardim de sua avó.


( Leo Canaã - "O Jardim Encantado*". 07 de Julho de 2019)

*Dedicado as minhas sobrinhas Camila, Lara, Júlia, Natália e Vitória e aos meus sobrinhos Otávio, Hugo e Davi. Também dedico ao meu "afilhado" Luan e a minha afilhada Bebeca, além de Malu, Clarissa, Caíque e Gabriel, Júlia e Gabi, Estér, Lívia, Murilo, Lulu (Luíza) e Caê, Samuel, Luna e Maitê, Kaman, Pedro, Artur e Luiz Antônio e todas as crianças que fazem da vida algo esplêndido. Obrigado do Tio!